Ouvimos falar, diariamente, sobre a obrigação das empresas de serem sustentáveis, economicamente, ambientalmente e socialmente. De fato, não há dúvidas sobre a sua obrigação legal e ética de agirem nesse sentido e de divulgarem informações verdadeiras sobre a presença (ou ausência) de práticas de sustentabilidade.
No entanto, sinto bastante falta de bandeiras que levantam o dever (e não apenas o direito) do consumidor de consumir de forma mais consciente e de exigir e fiscalizar a responsabilidade sócio-ambiental dos empreendedores.
Há anos falamos sobre a necessidade de consumo consciente. Seguem abaixo alguns exemplos de importantes marcos sobre o assunto:
1991: O Papa João Paulo II, por meio da Carta Encíclica Centesimus Annus, demonstrou preocupação com o consumismo, alimentado por artifícios que não deixam a pessoa distinguir a satisfação de necessidades básicas humanas com aquelas psicológicas e espirituais criadas pelo marketing. Assim, já dizia que era iminente e necessária uma grande obra educativa e cultural para os consumidores, para que eles sejam conscientes sobre seu poder de escolha (e por que não falarmos sobre o seu poder de transformar o mercado?)
1992: a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - ECO92 deslocou a preocupação ambiental advinda dos fatores de produção para os problemas oriundos do consumo irresponsável;
1998: o Relatório do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas afirmou que a vida humana é fundamentalmente alimentada e sustentada pelo consumo e que o problema em si não é o consumo (que caracteriza o sangue da vida e do progresso humano), mas sim o consumismo. Segundo ele, "As escolhas dos consumidores devem ser transformadas numa realidade para todos.", deve haver a melhoria das escolhas dos consumidores.
1999: a Organização das Nações Unidas incluiu um capítulo sobre consumo consciente nas diretrizes de defesa do consumidor (39/248 de 9,4,1985). O documento menciona que a responsabilidade pelo consumo consciente é de todos os integrantes da sociedade, incluindo os consumidores, os governos, as empresas e as organizações.
Enfim, há diversos marcos históricos (muito mais longínquos do que os citados acima) que mostram a necessidade de um consumo mais consciente.
Porém, digamos a verdade: o Estado não possui braço, pessoas e orçamento suficiente para fiscalizar os empreendedores. Os próprios empreendedores ainda não possuem interesse - ou conhecimento - necessários para tornar sua atividade efetivamente mais sustentável. As entidades que lutam diariamente pela defesa do meio ambiente, dos consumidores e da qualidade dos meios de trabalho também não conseguem obter o alcance necessário para transformar integralmente a atividade empresarial.
Por essas razões, penso que ainda precisamos investir mais e mais na educação do indivíduo como consumidor responsável e consciente.
O direito do consumidor está em todos os atos de nossas vidas. Está na alimentação, no vestuário, no lazer, na moradia, na música, nos jogos, na publicidade. No seu primeiro respiro, a pessoa já se torna um consumidor (obviamente, sustentado por seus pais e/ou cuidadores). Educar sobre o consumo significa criar cidadãos alertas, responsáveis, conscientes, exigentes e, por conseguinte, ativos e líderes do mercado.
Embora a informação seja o ponto chave das relações de consumo, ela não é suficiente para alterar os hábitos dos consumidores. É indispensável que sejam educados sobre responsabilidade ambiental, pela escola, família, pelos meios de comunicação, pela espiritualidade e/ou religiosidade.
O consumidor educado e responsável é capaz de aprender sobre os aspectos econômicos da compra, sobre como o produto é fabricado, quais seus impactos ao meio ambiente, como são tratadas as pessoas que trabalham para o produto ser produzido e comercializado, como é o tratamento dos resíduos e dos rejeitos, etc.
A educação sobre consumo consciente deve iniciar em idade tenra, para que efetivamente se torne um hábito desde cedo, algo que já esteja inserido com naturalidade no dia a dia da pessoa, fazendo parte de sua formação integral.
Algumas orientações educativas são realizar atividades que :
Permitam que o aluno reconheça que ele é um consumidor, quais são os seus direitos e deveres, como funciona a sociedade de consumo e como ele pode se informar e agir como um consumidor informado.
Envolvam estudos de realidades, análises e críticas de situações de consumo, autonomia no momento da escolha dos produtos e como resolver conflitos de consumo.
Ser crítico quanto ao consumo excessivo, à degradação ambiental e a situações que lhe impedem de se comportar de forma consciente.
Os educadores podem entusiasmar os alunos a realizarem dinâmicas que envolvam pesquisas de informações sobre consumo, avaliação de textos e documentos, estudos de produtos e processos produtivos, jogos e livros com o tema consumo sustentável, simulações de mediação de conflitos surgidos pela ausência de consciência ambiental.
Por exemplo, indicamos a atividade “seguir a pista”, pela qual os alunos são divididos em grupos, cada um deles elege um determinado produto e ficam responsável por investigar qual o caminho que um produto está percorrendo, desde antes de sua produção até o momento do descarte dos resíduos ou rejeitos sólidos. Pode-se pedir a esses alunos que analisem:
Se a produção é artesanal ou industrial.
Qual é a matéria-prima utilizada, como elas são obtidas e comercializadas (transporte, armazenamento, etc).
Quem são e como são tratados os trabalhadores envolvidos naquela cadeia produtiva.
Como se formou o preço do produto.
Como é feita a sua venda: publicidade, pontos de venda, forma de colocação no ponto de venda, higiene e conservação, produtos similares, etc
Quem compra e utiliza o produto, para que e por quanto tempo o utilizam;
Se há alguma fraude, quais são os direitos dos consumidores do produto, quais as repercussões no meio ambiente, se existem produtos alternativos e de fabricação caseira.
Está no consumidor a força para aumentar ou aniquilar a oferta de produtos e serviços. Está no consumidor a maior força para o alcance de um desenvolvimento sustentável.
Vamos aproveitar que a Consumers International divulgou que o tema a ser trabalhado esse ano é o Consumidor Sustentável, para transformar a retórica em prática?
Estou super à disposição para auxiliar seus projetos nesse sentido a se tornarem efetivos. Vamos conversar! :)
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